Black
carbon altera o clima global |
Um
caso em que a interferência humana causa variações
climáticas é a formação de um
composto complexo de carbono produzido pelas queimadas e
pela queima de derivados de petróleo — o black
carbon
.
Como se fosse uma microfuligem, esta estrutura interfere
na absorção da radiação do Sol
na atmosfera, agregando calor a ela e interferindo no clima.
Chega a aumentar em 1º C a temperatura da região
em que se concentra.
— Pesquisas apontam que o black carbon atua como “forçante”
climático. Sua concentração na atmosfera
é responsável, atualmente, por parte do aquecimento
global. É importante efetuar medidas dessa estrutura
química na atmosfera porque é indicadora da
atividade humana tanto pelas queimadas quanto pela poluição
urbana. Ao mesmo tempo, o composto tem implicação
no balanço radiativo
global
,
interferindo no clima. É por isso que monitoramos
e temos interesse no elemento — analisa Evangelista.
Há grande concentração de black carbon
nas grandes cidades. No Rio de Janeiro, a concentração
média é de 3.000 a 4.000 nanogramas por m3
de ar, sendo que não há estudos de um limite
para essa quantidade.
— O black carbon não é tão nocivo
à saúde quanto os outros compostos como óxidos
de nitrogênio (NOX), o gás carbônico
(CO2) ou o ozônio (O3). Estes elementos, por serem
mais nocivos à saúde humana, são regulados
por um limite. Já o black carbon tem uma implicação
maior sobre a qualidade do ar do ponto de vista climático
— explica Evangelista.
A Ilha Grande, localizada em Angra dos Reis entre Rio de
Janeiro e São Paulo, recebe cargas de poluentes dos
dois estados. Por ser um foco receptor de black carbon,
a região é objeto de estudo do Projeto Ecoar
(colocar link para matéria site MA UERJ), coordenado
por Heitor Evangelista e com a infra-estrutura do Centro
de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável
(Ceads), que faz medições do black carbon
que chega à ilha, comparando com imagens de satélite.
— Foi montado um laboratório com o apoio do
Ceads para monitorar o black carbon durante todo o ano e
fazer, ao mesmo tempo, acompanhamento de imagens de satélite,
visando ao estudo das dinâmicas das massas de ar associadas
ao black carbon. Verificamos que São Paulo e Rio
de Janeiro contribuem em proporções quase
iguais para a poluição da Ilha Grande —
diz Evangelista.
Composto presente na atmosfera, o black carbon apresenta
as mesmas dinâmicas das massas de ar. Por meio da
comparação entre imagens de satélite
que mostram o deslocamento dessas massas e o uso do italômetro,
equipamento que mede o black carbon em tempo real, é
possível analisar as variações do composto
no local.
— Observamos todas as variações interanuais
da concentração de black carbon. Verificamos
as épocas de maior concentração e a
que parâmetro isso pode ser associado. Nosso estudo
se dá pelo monitoramento dele e de outros parâmetros
meteorológicos, como a passagem de frentes, a velocidade
do vento, a cobertura de nuvens, que são reguladores
do black carbon na atmosfera — explica Evangelista.
As pesquisas atuais apresentam estimativas da emissão
global de black carbon e do quanto ele interfere no aumento
da temperatura global. Evangelista acredita ainda que há
implicações na temperatura local.
— Ele atua pontualmente no microclima de uma região,
mas é um processo mais complexo de ser analisado.
Não existem estudos de impactos locais no Rio de
Janeiro e São Paulo. Mas ele apresenta implicações
não só no clima global. Como ele é
responsável pelo aquecimento da atmosfera, ele pode
alterar, por exemplo, o padrão
de vento
,
de chuva, e cobertura de nuvens — aponta o biólogo.
|
Esquema
de produção por meio da queima e impacto
ambiental do black carbon.
Esquema cedido por: Heitor Evangelista |
O
black carbon está associado às massas de ar
e frentes frias que ocorrem localmente, como as que vêm
do Sul do Brasil e, passando por São Paulo, carregam
poluentes para a Ilha Grande, ou as de origem marinha ou
continental que se deslocam pelo Rio de Janeiro e a ilha.
Da mesma forma, a poluição gerada na América
do Sul é transportada para outras regiões
do mundo, interferindo no clima global.
— Durante as queimadas no Brasil, o black carbon na
Antártica aumenta. A poluição produzida
no Brasil, principalmente com as queimadas, pode ter efeitos
em larga escala — explica Evangelista.
Nota: Heitor Evangelista e os pesquisadores Enio Bueno
Pereira e Juan Maldonado terão o trabalho Black carbon
as an atmospheric tracer of urban activities in Brazil publicado
no jornal científico britânico Atmospheric
Environment.
Carbono a favor do meio ambiente Leia[+]
A
Revolução Industrial acelerou as alterações
climáticas no planeta Leia[+]
Sociedade
ainda não valoriza a conservação das
florestas Leia[+]
O
Protocolo de Quioto e o mercado de carbono
Leia[+]
Novas tecnologias
e influência humana no clima podem ser relativas Leia[+]