Agência
FAPESP - Ele é bastante conhecido
dos mergulhadores do Caribe e do sul da Flórida,
mas em Fernando de Noronha o tubarão
cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi)
também está presente. Mesmo sendo
conhecido dos observadores dos oceanos, um dos
grandes enigmas da biologia populacional dessa
espécie típica dos recifes de
corais ainda precisava ser desvendado.
Os
cientistas, pelo menos nos domínios do
Atlântico Sul, não conheciam nenhuma
área usada pelo C. perezi para acasalamento
e reprodução. Mas, como revela
uma nova pesquisa, uma dessas áreas acaba
de ser descoberta.
“Nossos
resultados mostram que a região costeira
do arquipélago é utilizada pelo
C. perezi como área de nascimento –
ou parto – e crescimento de exemplares
jovens, além de existir indícios
de que os animais usam o arquipélago
como local de cópula”, disse o
biólogo Ricardo Garla, autor do estudo,
à Agência FAPESP.
Garla,
cujo estudo foi tema de tese de doutorado apresentada
no Departamento de Zoologia do Instituto de
Biociências da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), em Rio Claro, acredita que Fernando
de Noronha seja um dos principais berçários
naturais da espécie no Atlântico
Sul.
Segundo
as pesquisas, já foram registradas as
capturas de 143 exemplares do tubarão
cabeça-de-cesto na área investigada,
com tamanhos entre 71 a 224 centímetros.
Todos encontrados entre 5 e 30 metros de profundidade.
“Os
dados mostram que a reprodução
dessa espécie está muito associada
a regiões insulares”, explica o
pesquisador, que vive em Ribeirão Preto
(SP). Segundo ele, o estudo mostrou um outro
dado, que também começa a preocupar.
Os
tubarões, de acordo com o biólogo,
que também analisou a presença
de outras espécies encontradas no arquipélago,
não freqüentam muito o trecho da
Área de Proteção Ambiental
(APA). “Isso pode estar relacionado com
o aumento das atividades antrópicas nos
últimos três ou quatro anos”,
afirmou.
Durante
a amostragem dos pontos de coleta de tubarões,
surgiu uma outra indicação de
que algumas áreas de Fernando de Noronha
estão deixando para trás os conceitos
de desenvolvimento sustentável. “Percebemos
a ocorrência de uma explosão na
população do ouriço-branco,
o que é um efeito indireto do aumento
da pesca”, disse o biólogo. O crescimento
das atividades dos pescadores levou à
diminuição da presença
dos predadores principais dos ouriços
e o conseqüente aumento populacional.
Seja
para a preservação de todo o arquipélago,
ou pela sobrevivência dos exemplares de
C. perezi, Garla não tem dúvidas
de que um novo plano de manejo precisa ser implantado
na região. Além da proibição
da pesca em alguns pontos ao redor da ilha principal
de Fernando de Noronha, ele defende a adoção
de uma política decisiva de educação
ambiental que inclua visitantes e a população
local.
“Apesar
de ainda não termos provas genéticas,
é possível afirmar que a população
de tubarões, que sofreu com a pesca artesanal
entre 1992 e 1997, está se recuperando.
Mas isso é um processo lento, que pode
demorar várias décadas”,
disse Garla. “Estamos muito próximos
do ponto de viragem e ainda é possível
impedir que a situação piore”.