Uma
das primeiras atitudes para evitar que uma população
de animais sofra um desequilíbrio ecológico
é desenvolver estudos sobre ela. Foi
com este intuito que a bióloga Érica
Cristina Padovani Haller produziu um dos únicos
trabalhos a respeito dos aspectos reprodutivos
de duas espécies de tartaruga que habitam
a floresta amazônica: a Podocnemis sextuberculata
e a Podocnemis unifilis, popularmente conhecidas
como pitiú e tracajá, respectivamente.
De
acordo com a pesquisadora, estas espécies
quase não foram estudadas, e isto já
é um motivo de preocupação.
Os resultados das pesquisas de Érica
estão na dissertação Aspectos
da biologia reprodutiva de Padocnemis sextuberculata
(pitiú) e P. unifilis (tracajá)
na região da Reserva Biológica
do Rio Trombetas, Pará, defendida pelo
Instituto de Biociências (IB) da USP.
"Para se ter uma noção do
contexto, é preciso que seja feita uma
comparação com a tartaruga-da-Amazônia,
sobre a qual há estudos mais complexos.
A população desta espécie
na região está declinando visivelmente,
e a tracajá e a pitiú estão
sendo predadas tanto quanto ela", alerta
a bióloga.
O
estudo foi realizado durante o período
de desova, e na reserva os animais protegidos
coabitam com cerca de oito mil famílias
de quilombolas (os descendentes dos negros dos
quilombos) e algumas populações
indígenas.
Mais
fiscalização - O consumo
de ovos e de carne de tartaruga é hábito
nestas comunidades, que caçam os animais
sem nenhum tipo de controle ou preocupação
ecológica. Érica conta que concorria
com os nativos para chegar às tartarugas
e aos ninhos primeiro. "A predação
desordenada destes quelônios foi uma das
maiores dificuldades da pesquisa", diz.
Uma
das conclusões do estudo toca justamente
nesta questão. "É imperativa
a necessidade de aprimorar a fiscalização
e encontrar alternativas sociais de modo que
os habitantes locais possam diminuir a predação
sobre os quelônios".
Segundo
a pesquisadora, a construção de
criadouros é uma das possibilidades mais
viáveis. Com eles seria possível
que a comunidade local continuasse com a exploração
das tartarugas, porém de maneira sustentável
e mais benéfica a todos.
Iniciativas
deste tipo esbarram, entretanto, em problemas
de infra-estrutura. "Só chegar,
falar e ir embora é fácil, mas
não adianta. É necessário
ter um programa contínuo junto às
comunidades da região", recomenda
Érica.
No
estudo, Érica também chegou a
outras conclusões que podem ajudar na
preservação da tracajá
e da pitiú. Ela registrou, por exemplo,
o comportamento de nidificação
(feitura do ninho) das duas espécies
e demonstrou haver uma correlação
significativa entre o comprimento da carapaça
de fêmeas de Podocnemis sextuberculata
e número, peso e volume dos ovos da ninhada.
Mais informações: erica_haller@yahoo.com.br.
André Benevides - Agencia USP