São
Paulo - O bichinho é pequeno
- não tem mais do que 4cm - e vem de
longe, mas é capaz de fazer um estrago
considerável. É o mexilhão
dourado (Limnoperna fortunei), um pequeno
molusco de água doce, originário
do sul da Ásia, que chegou ao Brasil
em 1998 e já infestou rios, lagos e reservatórios
da Região Sul e do Pantanal e começa
a ser detectado em São Paulo.
Além
de desequilibrar os nichos ecológicos
aos quais chegou, pondo em risco de extinção
espécies nativas, o invasor ameaça
o setor elétrico brasileiro, a agricultura
irrigada, a pesca e o abastecimento de água.
Com
a capacidade de se incrustar em qualquer superfície
submersa, como madeira, rocha, plástico
e até vidro, essa espécie exótica
está causando um problema tão
grave que o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) teve de agir. Em 22 de dezembro, editou
a Portaria n.º 494, que criou uma força-tarefa
nacional (FTN), composta por representantes
de 7 ministérios e 13 entidades ligadas
aos setores de geração de energia,
abastecimento e meio ambiente, para pesquisá-lo
e tentar controlá-lo.
"A
primeira ação da FTN é
elaborar um diagnóstico dos problemas
causados pelo mexilhão dourado, verificando
até onde ele já chegou",
diz Robson José Calixto, assessor para
o controle de poluição marinha
do MMA. "O que deverá estar concluído
até o dia 22 de abril."
Lastro
de navio - A história do mexilhão
dourado na América do Sul começou
em 1991, quando ele foi detectado pela primeira
vez no Rio da Prata, próximo de Buenos
Aires. O molusco bivalve (com duas conchas,
que se fecham) chegou até ali na água
de lastro de navios vindos do Oriente.
No
Brasil, sua presença foi registrada pela
primeira vez em 98, no Delta do Rio Jacuí,
próximo a Porto Alegre. Em 99, foi detectado
no Rio Guaíba, no qual o Jacuí
desagua, e na hidrelétrica paraguaio-argentina
de Yacyretá, no Rio Paraná. Em
abril de 2001, foi encontrado numa das tomadas
de água (compartimentos anteriores às
turbinas) da barragem de Itaipu, 400 quilômetros
acima de Yacyretá.
"Encontramos
numa inspeção de rotina",
explica a farmacêutica bioquímica
Leonilda Correia dos Santos, responsável
técnica pelo Laboratório Ambiental
da Itaipu Binacional. "Desde então
estamos estudando e acompanhando o mexilhão
dourado. Além dos problemas que pode
causar à hidrelétrica, queremos
saber se há risco de causar doenças."
Proliferação
incrível - A equipe pôde
observar sua incrível proliferação.
"Em abril de 2001, a densidade do mexilhão
em Itaipu era de dois indivíduos por
metro quadrado", diz Leonilda. "Em
setembro passado, encontramos numa tomada de
água uma concentração de
184 mil mexilhões por metro quadrado."
"O
Limnoperna fortunei se espalha ao espantoso
ritmo de 240 quilômetros por ano",
afirma o biólogo Rodrigo De Filippo,
da equipe da Furnas Centrais Elétricas
dedicada a pesquisar o mexilhão. Leonilda
conta que o número reduziu-se um pouco
em Itaipu e garante que ainda não há
risco de redução na capacidade
de gerar energia. "O único problema
até agora é que tivemos de aumentar
o número de manutenções
preventivas."
Situação
bem mais grave está enfrentando o Departamento
Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de
Porto Alegre. "Em todas as nossas oito
estações de captação
de água no Rio Guaíba há
colônias incrustadas nas tubulações",
explica o biólogo Márcio Suminsky.
Essas colônias chegam a tomar até
100 metros de canos, prejudicando a vazão.
"Começamos a detectar essa perda
de vazão no fim de 2000", conta.
Hoje,
o DMAE tem de contratar mergulhadores, que inspecionam
a tubulação e removem as colônias
de dois em dois meses. Em incrustações
maiores, é usado sulfato de cobre, que
mata os animais. "Às vezes, a quantidade
é tão grande, que temos de usar
contêineres para transportá-las
até um aterro sanitário"
diz Suminsky. Evanildo da Silveira