O
aumento da concentração de CO2
(gás carbônico) na atmosfera modifica
dramaticamente o equilíbrio natural das
árvores da floresta amazônica,
uma das principais reservas de biodiversidade
do planeta, segundo uma pesquisa cujos resultados
foram publicados pela revista britânica
Nature.
Uma
equipe de cientistas brasileiros e americanos
estudou, de 1980 a 2000, o crescimento de 14.000
árvores dispersas numa área de
300 km2 na zona central da floresta amazônica.
Cada árvore foi cuidadosamente marcada
e medida com 15 anos de intervalo em média.
As
árvores absorvem o gás carbônico
no processo de fotossíntese e inúmeros
estudos mostram um crescimento maior das florestas
sob o efeito de um aumento do CO2.
Mas
esse crescimento não é uniforme,
revela a pesquisa. Das 115 espécies mais
abundantes na zona estudada, 27 registraram
mudanças importantes na densidade populacional
e em sua extensão territorial. Treze
espécies aumentaram em número,
enquanto 14 diminuíram e 14 espécies
aumentaram sua extensão territorial,
para 13 que perderam terreno.
"Evidentemente,
há vencedores e perdedores", comenta
Alexandre Oliveira, da Universidade de São
Paulo, no comunicado que acompanha a matéria
da Nature. "No geral, as grandes árvores
de crescimento rápido saem vencendo em
detrimento das árvores menores, que vivem
nas zonas mais sombrias da floresta".
Segundo
os cientistas, a concentração
de CO2 acarreta uma competição
mais acirrada pela luz, água e nutrientes
da terra, na qual acabam favorecidas as árvores
mais rápidas em detrimento das mais lentas
e menores.
Este
retrocesso das árvores menores, as únicas
capazes de florescer e reproduzir-se à
sombra das maiores, é preocupante, já
que delas dependem inúmeras outras espécies
de animais e vegetais.
William
Laurance, do Instituto Smithsoniano de Pesquisa
Tropical do Panamá e do Instituto de
Pesquisa Amazônica de Manaus, que dirigiu
o estudo, assinala que "é aterrador
comprovar mudanças tão rápidas
e tão grandes na floresta".
"A
floresta tropical abriga inúmeras espécies
muito especializadas. Se a diversidade dessas
árvores for modificada, as espécies
que vivem nesse habitat e, em particular, os
insetos que polinizam as árvores mudarão
também", acrescenta o cientista.
A
concentração de CO2 na atmosfera
aumentou 30% nos últimos dois séculos
por causa da utilização intensiva
de energias fósseis (carvão, petróleo,
gás) pelo homem.
Além
das repercussões sobre a biodiversidade,
as modificações assinaladas no
estudo podem ter conseqüências graves
para a mudança climática no planeta.
De fato, a floresta amazônica desempenha
um papel de escoadouro de gás carbônico
vital para o planeta, pois armazena o CO2 nas
árvores em crescimento.
"O
armazenamento de CO2 poderá diminuir
por causa da tendência das árvores
altas em reduzir sua densidade, enquanto aumentam
seu tamanho e seu crescimento e diminuem as
árvores de madeira densa que vivem sob
a abóbada florestal", assinalam
os autores.