Nações
Unidas - Uma área do tamanho
de Portugal (cerca de 92 mil km²) foi transformada
em deserto na China desde os anos 50, e pelo
menos 31% do território da Espanha está
em processo de desertificação,
segundo o alerta que a Organização
das Nações Unidas pretende lançar
na quinta-feira, em Bonn (Alemanha), marcando
o Dia Mundial do Combate à Desertificação.
A ONU quer mostrar que, hoje, um terço
da superfície da Terra está sob
risco de virar deserto.
Os
riscos mundiais da desertificação
estão ficando “substanciais e evidentes”,
afirma o secretário-geral das Nações
Unidas, Kofi Annan em comunicado lançado
no mês passado.
A
perda de terras com vegetação
e áreas cultiváveis ocorre em
velocidade duas vezes maior do que a verificada
na década de 70, conforme os dados da
ONU, causando problemas que vão desde
a migração de famílias
das zonas rurais para cidades superpopulosas
até a piora das condições
atmosféricas em decorrência da
perda de matas, passando pela fome, pobreza
e violência.
Agricultura e aquecimento -
“Áreas inteiras devem se tornar
inabitáveis”, prevê Michel
Smitall, porta-voz das Nações
Unidas que trata da questão. “É
uma tragédia que se arrasta lentamente.”
Agricultura predatória, queimadas, mananciais
sobrecarregados e explosões demográficas
estão entre as principais causas, com
o auxílio dos crescentes efeitos do aquecimento
global – ressecando ainda mais os solos
afetados.
“Não
é tão dramático como um
grande desastre, tipo terremoto, mas há
uma tendência de degradação
crescente”, diz Richard Thomas, diretor
do programa de gestão de recursos naturais
do Centro Internacional de Pesquisas Agrícolas
em Áreas Secas, na Síria.
Dez anos - O alerta marca
também os dez anos da Convenção
do Combate à Desertificação.
Além do evento em Bonn, a ONU pretende
promover na semana que vem, em Brasília,
um encontro para debater o tema.
As
áreas sob maior risco, segundo as Nações
Unidas, são as próximas aos desertos
já existentes – muitas regiões
da África Sub-Saariana e o entorno do
deserto chinês de Gobi, por exemplo. Com
o aumento da população, a pressão
sobre os recursos naturais cresce e o ambiente
fica mais suscetível à expansão
do deserto. AP
Dados
da ONU sobre desertificação
» De meados dos anos 90 até 2000,
a cada ano 3,436 km² foram transformados
em desertos. A média dos anos 80 era
de 2,1 km² e, nos anos 70, de 1,560 km²
» Até 2025, a África perderá
dois terços das suas terras cultiváveis,
a Ásia perderá um terço
e a América do Sul, um quinto
» Cerca de 135 milhões de pessoas
- equivalente às populações
da França e Alemanha juntas - estão
sob risco de perder suas terras para a desertificação
» Em regiões da Austrália,
os sistemas de irrigação estão
bombeando água salgada para as plantações
e, progressivamente, contaminando o solo com
sal
» Na Arábia Saudita, criadores
de animais estão devastando as áreas
de pasto ao trazer água para seus rebanhos
com caminhões. Em vez caminhar de oásis
a oásis para obter água e alimentação,
os animais ficam parados, devorando o pasto
em que estão
» Na Espanha, Portugal, Itália
e Grécia, o consumo crescente de água
nos resortes à beira-mar tem exaurido
mananciais e muitos produtores rurais ainda
usam a irrigação por alagamento,
em vez da aspersão. A conseqüente
falta de água tem provocado o abandono
das terras