São
Paulo - O governo deve anunciar nesta
quarta-feira os dois primeiros projetos aprovados
oficialmente no País para participação
no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
do Protocolo de Kyoto, que prevê a criação
de um comércio internacional de créditos
pela redução das emissões
de gases do efeito estufa.
Ambos
são projetos desenvolvidos em aterros
sanitários para o aproveitamento do metano,
gás produzido pela decomposição
do lixo que, na atmosfera, causa ainda mais
aquecimento do que o dióxido de carbono
(CO2).
Apesar
de vários projetos de venda de "créditos
de carbono" já terem sido anunciados
nos últimos anos, esses são os
primeiros homologados pelo governo. Mais especificamente,
pela Comissão Interministerial da Mudança
Global do Clima, estabelecida em 1999. A validação
federal é obrigatória para que
o projeto possa ser registrado no Comitê
Executivo do MDL em Bonn, na Alemanha.
Formulação - "O
Brasil teve um papel de destaque na formulação
do MDL e agora confirma esse papel com a aprovação
dos primeiros projetos na América Latina",
disse o ministro da Ciência e Tecnologia,
Eduardo Campos.
Os
dois projetos aprovados são das empresas
Vega, em Salvador (BA), e Nova Gerar, em Nova
Iguaçu (RJ). Apesar de trabalharem com
o metano, a redução de emissões
é calculada em dióxido de carbono:
14 milhões de toneladas de CO2 em 16
anos para o primeiro e 14 milhões de
toneladas de CO2 em 21 anos para o segundo.
As empresas só darão maiores detalhes
após o anúncio.
MDL - O MDL nasceu de uma proposta
brasileira no Protocolo de Kyoto para certificação
de projetos que contribuam para reduzir gases
do efeito estufa. O mecanismo permite que países
ricos, obrigados pelo protocolo a cortar emissões,
comprem créditos pela redução
de emissões nos países em desenvolvimento.
"O
Brasil passa a ser destino certo para esses
investimentos", disse o ministro. Para
funcionar oficialmente, entretanto, o MDL precisa
da aprovação do protocolo, que
depende ainda da assinatura da Rússia
para entrar em vigor.
Combustão - O acúmulo
de dióxido de carbono na atmosfera -
causado principalmente pela queima de combustíveis
fósseis na indústria e pelos automóveis
- é apontado como o grande vilão
do aquecimento global.
Já
o metano está presente em quantidades
bem menores, mas, molécula por molécula,
retém mais calor que o CO2. Trata-se
de um gás inflamável, produzido
naturalmente pela decomposição
do lixo.
A
proposta dos projetos é reduzir essas
emissões pela canalização
e queima do metano nos aterros, impedindo-o
de chegar à atmosfera. No caso da Nova
Gerar, o gás será usado como combustível
para a produção de eletricidade.
Carimbo - Para receber o carimbo
federal, além de reduzir emissões,
os projetos precisam provar que contribuem para
o desenvolvimento sustentável - do ponto
de vista ambiental e social.
Os
lixões precisam operar nas melhores condições
sanitárias possíveis, criar empregos
e dar opção de vida aos catadores.
"A captação de créditos
de carbono torna-se um incentivo para transformar
os lixões em aterros bem projetados",
afirmou o coordenador-geral de Mudanças
Globais do Clima do ministério, José
Miguez.
Outros
12 projetos estão sendo analisados atualmente
pela comissão interministerial. "Na
medida em que as incertezas forem diminuindo,
esperamos ter cada vez mais projetos desse tipo
no Brasil", disse Miguez. Herton
Escobar