As
geleiras estão derretendo. E o que você
tem com isso? Depende. Se você mora à
beira-mar ou simplesmente gosta de curtir uma
praia, é bom estar atento às primeiras
investigações sobre a erosão
da orla do Rio. A radiografia vale para as praias
de Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon, São
Conrado, Barra da Tijuca, Recreio, Prainha,
Macumba e Grumari. O aumento do nível
do mar é ameaça real, segundo
estudos iniciados em 1997 por pesquisa da Oceanografia
Geológica da Uerj.
Trocando
em miúdos: o fenômeno pode alterar
a circulação de areia da orla,
provocando recuo de alguns metros e até
quilômetros da costa em direção
aos prédios. E a fúria das águas
pode inundar parte da cidade. “Mas os
problemas vão depender do aquecimento
global do planeta, acelerado atualmente pelo
lançamento desenfreado de gás
carbônico na atmosfera. O cenário
de inundações pode ocorrer em
15 ou 20 anos”, ressalva Marcelo Sperle
Dias, do Instituto de Geociências da Uerj.
Situação
pior em Ipanema, Leblon, Arpoador e Copa -
Previsões
recém-divulgadas pela Organização
das Nações Unidas apontam que
oceanos sofrerão elevação
média de até três metros
este século. “Isso corresponde
a um quilômetro de avanço da água
terra adentro”, explica Marcelo.
As duas regiões mais críticas
são: o arco das praias de Arpoador, Ipanema
e Leblon e o Posto 5, em Copacabana. “A
tendência é que essas faixas de
areia desapareçam. Nesses pontos, as
ondas quebram com muita energia”, alerta.
O pesquisador exemplifica: “Em Atafona,
no Norte Fluminense, o mar engoliu 300 metros
da orla em 10 anos. Duas quadras habitadas sumiram”.
Projeto
vai prever onde mar ameaça mais -
Mas
nada de pânico! O Projeto EroCosta, coordenado
por Dias, monitora o problema justamente para
evitar futuras fugas em massa morro acima. A
coleta de dados nas praias é bimestral.
A pesquisa originará mapas detalhados
sobre as alterações. “A
partir daí, ficará fácil
diagnosticar pontos com maior tendência
de perda de areia. Poderemos então traçar
soluções para evitar danos”,
comenta o professor.
Há 20 anos na Praia da Macumba, o ambulante
Joel Antônio de Oliveira, 49, conta acompanhar
o ímpeto das marés. “Havia
pelo menos mais 30 metros de faixa de areia
quando comecei a trabalhar. De 12 anos para
cá, foi sumindo, aos poucos. Impressionante!
Até as dunas se foram”, conta Joel.
Há quatro anos, durante ressaca, as ondas
destruíram parte do muro de contenção,
escadaria e bancos na orla da Macumba. Os estragos
estão até hoje. “Foi de
madugada. A água arrastou dois trailers”,
recorda-se Joel.
A chegada de frentes frias no inverno pode intensificar
a remoção natural de areia. “Mas
a ação do homem nos preocupa muito
mais. A execução de obras na costa
sem estudo de impacto, por exemplo, são
extremamente danosas e podem acelerar o estreitamento
da faixa”, acredita Dias. Fabrício
Marta
Matéria
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