De
olho nas mudanças climáticas e
o perigo do efeito estufa, a mesa-redonda "Seqüestro
de Carbono em Sistema de Plantio Direto"
debateu ontem, no primeiro dia do 9º Encontro
Nacional de Plantio Direto na Palha, em Chapecó
(SC), a vantagem da utilização
da palhada para a retenção dos
gases tóxicos jogados na atmosfera.
Os
pesquisadores Telmo Amado, da Universidade Federal
de Santa Maria (RS); e Carlos Cerri, da Esalq
- USP (SP), juntamente com um dos pioneiros
do Sistema de Plantio Direto no Brasil, o produtor
Herbert Bartz, discutiram a importância
da agricultura moderna para reverter o processo
de liberação de gás carbônico
(CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O)
pelo solo.
Ao
contrário da agricultura convencional
que, com o uso da grade e arado, revolve o solo
e estimula a ação de microorganismos
a produzirem CO2, a tecnologia utilizada no
plantio direto reduz as emissões dos
gases por não haver trabalho no solo
e ainda capta parte do carbono encontrado na
atmosfera, por meio da decomposição
da palha. "O Sistema de Plantio Direto
já se mostrou aliado ao combate à
erosão e agora pode ser utilizado para
eliminar o carbono solto no ambiente",
afirma Amado.
Da
mesma opinião é o professor Cerri,
que acredita na tecnologia mais tecnificada
do plantio direto para transformar o solo em
um "seqüestrador de carbono",
realizando uma atividade inversa à conhecida
até pouco tempo, em que o solo era responsável
por 20% das emissões de gases tóxicos,
atrás somente da queima de combustível
fóssil (66%). "Se o manejo do solo
for mal planejado, parte do carbono do solo
pode ser transferido para a atmosfera, causando
mudanças climáticas que desequilibram
o ambiente", explica.
Em
seus estudos, Cerri pôde constatar que,
sob o plantio direto, a maior quantidade de
matéria orgânica no solo aumenta
os níveis de carbono do solo, fixos no
tecido vegetal da palha, através da fotossíntese.
O
produtor Herbert Bartz, experiente ativista
do Sistema de Plantio Direto, deu razões
práticas à importância da
tecnologia na captação e retenção
do carbono. Para Bartz, a qualidade do solo
é a base de uma boa agricultura, que
só pode ser alcançada com a diminuição
do processo erosivo do solo, maior quantidade
de matéria orgânica, melhor filtração
da água e com o processo de seqüestro
de gases - todos resultados de um plantio com
sucesso na palha. "O desafio do Brasil
não é mais realizar ou não
o plantio direto, mas sim com que qualidade
ele é feito", alertou.