São
Paulo - De 1800 a 1994, a quantidade
de dióxido de carbono (C02) jogada na
atmosfera por combustíveis fósseis
e pela produção de cimento, o
chamado C02 antropogênico, aumentou 35%,
mas a quantidade estimada por cálculos
deveria ser basicamente o dobro. Então,
onde foi parar essa outra metade que foi arremessada
no ar, mas não está lá?
"Os
oceanos absorveram 48% do C02 emitido por nós
para a atmosfera nos últimos 200 anos"
é a resposta dada por Christopher Sabine,
do National Oceanic Atmospheric Administration
(Noaa) principal autor de artigo sobre o tema
publicado na revista Science (www.sciencemag.org).
No
estudo, os cientistas analisaram dados de três
projetos de pesquisa dos anos 90 - World Ocean
Circulation Experiment (Woce), Joint Global
Ocean Flux Study (JGOFS) e Ocean-Atmosphere
Carbon Exchange Study (Oaces) - e chegaram a
essa conclusão.
Mais do que se pensava - "Os
resultados estão entre os mais intrigantes
levantados pelos programas Woce e JGOFS",
diz James Yodero, diretor da divisão
de oceanos da Fundação Nacional
da Ciência Americana (NSF).
A
pesquisa aumenta ainda mais a porcentagem estimada
de C02 absorvida pelos oceanos. "A previsão
de 2001 era de que havia entre 30% e 40% de
C02 antropogênico dissolvido nos oceanos",
afirma a professora Rosane Ito, especialista
em gases dissolvidos nos oceanos do Instituto
Oceanográfico da Universidade de São
Paulo (USP).
Risco a espécies - Em
outro artigo publicado na revista, Richard Feely,
do Noaa, e colegas falam do impacto causado
pelo C02 em espécies marinhas que necessitam
de suas conchas para viver.
Segundo
Victoria Fabry, bióloga da Universidade
Estadual da Califórnia em San Marcos
e co-autora do artigo, com o aumento do C02
haverá uma diminuição na
taxa de crescimento dos esqueletos de plâncton
calcário.
Calcificação e acidez
- Estudos recentes mostram que a taxa
de calcificação das conchas podem
cair entre 25% e 45% se a concentração
de C02 chegar a 800 partes por milhão
(ppm) na atmosfera - hoje estamos no patamar
de 380 ppm.
O
aumento de acidez no oceano, causa da perda
de calcificação das conchas, causará
também outra mudança drástica.
"Ela vai modificar a biodiversidade dos
oceanos, pois peixes que vivem em uma acidez
não sobrevivem em outra e vice-versa.
Espécies vão aparecer em certas
regiões e outras vão desaparecer",
comenta Rosane.
Limites
de absorção - Os oceanos,
no entanto, não são sorvedouros
infinitos de C02. "Em centenas de milhares
de anos, os oceanos deverão absorver
90% das emissões antropogênicas
de C02" mas, por causa de outro mecanismo,
no curto prazo o oceano pode perder sua capacidade
de absorver C02, segundo os autores.
Eles
propõem mais estudos para identificar
e entender quantitativamente esses mecanismos
para que seja possível saber qual será
o papel dos oceanos como armazenadores de C02
no futuro.
Capacidades por região - Os
oceanos também mostraram ter diferentes
capacidades de armazenamento. O Atlântico
Norte, por exemplo, tem 23% de C02, embora tenha
só 15% da área total de oceano
no mundo.
E
também a distribuição de
C02 em relação à profundidade
é diversa. "50% do C02 antropogênico
está na camada mais superficial dos oceanos",
afirma Sabine no artigo.
O
trabalho reuniu pesquisadores dos Estados Unidos,
Coréia do Sul, Austrália, Canadá,
Japão, Espanha e Alemanha e mediu também
temperatura, salinidade, oxigênio, nutrientes
e outros compostos no oceano. Independentemente
das previsões e precisões, é
bom cuidar do acúmulo, pois os efeitos
serão drásticos. Alessandro
Greco
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