São
Paulo - O ex-ministro da Ciência
e Tecnologia Roberto Amaral, que teve seu pedido
de demissão aceito pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na semana passada,
não deixará saudades na comunidade
científica. Grande parte das lideranças
da área não aprovou sua administração.
A
avaliação é a de que, embora
tenha tido algumas boas idéias, Amaral
não conseguiu pô-las em prática.
Segundo os cientistas, faltou a Amaral força
política para conseguir a liberação
de recursos em outros ministérios, principalmente
da área econômica.
A
demora para pôr em funcionamento a máquina
do seu ministério e não ter dado
continuidade a alguns programas do governo anterior
considerados eficientes são duas outras
críticas comuns à atuação
do ex-ministro.
Entre
os aspectos positivos, são elogiadas
suas escolhas para a direção de
algumas agências do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), como Erney
Camargo, para o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq),
e Sérgio Rezende, para a Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep).
Para
o presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti,
por exemplo, Amaral deixou sem solução
uma série de desafios.
“O
principal deles foi não ter conseguido,
por falta de força política e
coordenação com outros ministérios,
a liberação dos cerca de R$ 2
bilhões dos fundos setoriais, retidos
pela área econômica do governo”,
diz. “É um dinheiro carimbado,
que vem das empresas de vários setores
e deve ser usado somente para financiar a ciência
e a tecnologia no País, mas está
ajudando a formar o superávit primário.”
O
físico Carlos Alberto de Aragão
Carvalho, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), por sua vez, critica uma das
principais políticas que Amaral tentou
pôr em prática, a descentralização
da ciência, que hoje se concentra da Região
Sudeste. “Não foi uma política
bem-sucedida”, diz. “O resultado
dela foi ter acabado com o Pronex (Programa
de Apoio aos Núcleos de Excelência).”
Esse
programa, como o nome diz, financiava os melhores
grupos de pesquisa do País. Amaral mudou-o.
Para liberar os recurso do MCT agora é
necessário que os Estados, por meio de
suas fundações de amparo à
pesquisa (FAPs), entrem com uma contrapartida.
A
crítica de parte da comunidade científica
a esse modelo é de que muitas FAPs, e
os próprios Estados, não estão
preparados nem têm recursos para financiar
grupos do Pronex. Por isso é que Carvalho
diz que não se pode adotar a descentralização
às custas do que funciona.
Para
Tarcisio Pequeno, diretor do Laboratório
de Inteligência Artificial da Universidade
Federal do Ceará (UFC), a melhor proposta
do ex-ministro foi justamente essa da descentralização.
“Mas talvez aí também resida
o seu maior fracasso”, diz. “Sua
política pecou na forma como buscou realizar
essa descentralização, tratando
da mesma maneira regiões diferentes.”
De
acordo com Pequeno, regiões em estágios
de desenvolvimento diferente requerem políticas
e medidas diferenciadas. “Faltou para
o ministro e sua equipe imaginação
e disposição de buscar o estudo,
o diagnóstico e as ações
corretas para cada caso”, diz. Evanildo
da Silveira