O
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) aprovou recentemente
cerca de R$ 1 milhão para a implementação
de uma Central Termelétrica que produzirá
eletricidade a partir do aproveitamento de resíduos
de madeira por uma comunidade na Reserva Extrativista
de Cautário, no município de Costa
Marques, em Rondônia. A Comunidade de
Cautário 1 é uma das integrantes
da Associação dos Seringueiros
do Vale do Rio Guaporé (Aguapé),
a mais de 700 quilômetros da capital Porto
Velho.
As famílias da Comunidade de Cautário
sobrevivem com a extração do látex,
de castanha do Brasil, da copaíba, da
atividade madeireira sustentável com
planos de manejo autorizados e regulares, do
beneficiamento da madeira em uma serraria, do
artesanato e do ecoturismo. No entanto, devido
à baixa qualidade da energia hoje disponível
e aos altos custos de geração,
com geradores movidos a óleo diesel,
a produção a partir dos recursos
madeireiros está abaixo do potencial.
Para melhorar o fornecimento de energia e a
produção local, com geração
descentralizada, será desenvolvido por
dois anos um projeto piloto para produção
de 200 KW de energia com resíduos de
madeira pela organização não-governamental
Biomass Users Network (BUN). A iniciativa contará
com a parceria do Centro Nacional de Referência
em Biomassa da Universidade de São Paulo
(Cenbio/USP), Fundação de Amparo
e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e ministérios
do Meio Ambiente e das Minas e Energia, e com
o apoio da Aguapé, da Ação
Ecológica do Vale do Guaporé (Ecoporé)
e do Governo de Rondônia, entre outros.
O Ministério do Meio Ambiente, por meio
do Projeto Negócios Sustentáveis
do Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), irá
disponibilizar todas as informações
sobre projetos e pesquisas já desenvolvidas
na região nas áreas de treinamento,
qualificação, estudos socioeconômicos,
sobre cadeias produtivas e organização
comunitária. A implementação
do projeto deve começar em breve, logo
após o início do repasse dos recursos.
O engenheiro Carlos Machado Paletta, do Cenbio/USP,
explica que duas tecnologias serão testadas
já na fase inicial do projeto piloto
- a de gaseificação dos resíduos
de madeira e a de ciclo a vapor - para definir
qual poderá melhor atender comunidades
isoladas, tanto nos aspectos técnicos
como financeiros. "Um projeto desse tipo
e com esse porte será inédito
no Brasil", disse o engenheiro. Por fim,
as entidades envolvidas no projeto pretendem
construir um modelo sustentável e replicável
de geração de eletricidade a partir
da biomassa.
Os benefícios ambientais diretos do projeto
serão a substituição total
dos geradores atuais, que funcionam com diesel
(combustível fóssil), lançando
poluentes na atmosfera, e o uso de uma fonte
renovável e sustentável, o resíduo
de madeira. Só a economia com o corte
do consumo de óleo pode chegar a mais
de R$ 4 mil a cada mês.
No Brasil, muitas linhas de transmissão
se estendem por longas distâncias, levando
a perdas de energia. Esse é um dos pontos
em que a geração local e descentralizada
pode contribuir minimizando o desperdício
de energia no transporte, democratizando o acesso
à eletricidade e fazendo uso de fontes
alternativas, como a biomassa, os ventos e a
energia solar. Nas regiões Norte e Nordeste,
ainda é grande o número de brasileiros
sem acesso à energia. Ascom MMA