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Assunto
Editoria
Data
Aquecimento Global
Ciência
8/1/2004


Aquecimento global ameaça 24% das espécies

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Ainda é difícil imaginar a Terra sem quase um quarto das suas espécies vegetais e animais, mas é isso que pode estar à espreita daqui a meros 50 anos, se um esforço mundial para deter o aquecimento do planeta não for feito, alerta um estudo publicado hoje.

A previsão de sumiço de 24% das plantas e bichos do globo nem é a mais pessimista. Ela se refere a um grau mediano de mudança climática, aquela que viria se tivessem sucesso medidas para diminuir a queima de combustíveis como petróleo e derivados, que lançam na atmosfera gases ligados ao aquecimento global.

No caso de aumentos maiores do que 2C na temperatura média mundial por volta de 2050, até 52% das espécies poderiam se extinguir, com o desaparecimento das condições ambientais que garantem hoje sua sobrevivência.

O trabalho, que sai na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), foi coordenado pelo biólogo britânico Chris Thomas, da Universidade de Leeds, e contou com a bióloga brasileira Marinez Ferreira de Siqueira, do Cria (Centro de Referência em Informação Ambiental), em Campinas. Participaram ainda cientistas do México à Austrália, que já faziam trabalhos em escala local.

"O que fizemos foi reunir o maior número possível desses estudos, cobrindo a maior área possível do planeta. Esse novo trabalho analisa esses resultados para tentar estimar os riscos de extinção", afirmou Thomas à Folha.

Envelope ambiental

O trabalho parte do pressuposto de que, para cada espécie, existe um tipo de "envelope ambiental". São as condições de temperatura, precipitação (quantidade de chuva) e sazonalidade (variação das estações do ano) das quais a espécie depende para sobreviver.

A partir disso, os pesquisadores criaram modelos matemáticos que levam em conta tais condições e a distribuição atual das espécies numa região, diz Siqueira.

"O algoritmo busca, fora dos pontos de ocorrência das espécies, regiões similares onde a espécie poderia ocorrer --no presente e no futuro, usando as projeções do IPCC [Painel Intergovernamental de Mudança Climática, órgão da ONU] para daqui a 50 anos", explica a bióloga, que estudou os efeitos de possíveis alterações sobre espécies de árvore presentes no cerrado.

O que acontece é que, em diversos casos, e de acordo com a intensidade de mudança ambiental gerada pelo aquecimento nos vários cenários futuristas estimados pelo IPCC, a área disponível para uma espécie encolhe tanto que ela simplesmente pode cair fora do mapa --correndo o risco de se extinguir. No pior dos mundos, esse é o destino esperado para 75 de um total de 163 espécies de árvore do cerrado, como a douradinha (Palicourea rigida) ou o murici (Byrsonima coccolobifolia), de acordo com Siqueira.

"Claro que isso vai variar de espécie para espécie", ressalva a bióloga. Algumas estimativas não levam em conta, por exemplo, a capacidade de dispersão das espécies pelo ambiente, ou a adaptação delas a habitats diversos. "Mas você supõe que as necessidades ecológicas de uma espécie não vão variar em 50 anos", pondera a pesquisadora.

O resultado parece se repetir em grupos de seres vivos, de forma ligeiramente diferente, por todas as regiões do planeta estudadas pela equipe. No entanto, ainda é difícil imaginar se haveria efeitos positivos da mudança climática global sobre algum tipo de ecossistema.

"Áreas frias e secas podem ver aumentos na diversidade local, se houver aumentos na temperatura e na precipitação, mas as espécies adaptadas ao frio e à seca poderiam estar em risco mesmo assim", diz Thomas.

Embora o trabalho para entender como as variáveis climáticas e biológicas interagem esteja só no começo, pode ser que a incorporação de mais complexidade aos modelos mostre que o quadro é ainda pior do que se pensava.

"Dado que a quantidade mínima de aquecimento global esperada para 2050 é cada vez mais improvável, por causa da relutância de países-chave em ratificar [o protocolo de] Kyoto [que propõe medidas contra o problema], isso pode sugerir que nossas estimativas mais otimistas não são realistas", avalia Thomas.

"Na minha opinião, esses dados são bastante alarmantes e devem ser levados em consideração para decisões sobre conservação de espécies no Brasil", diz Siqueira.

"No entanto, há um fio de esperança", ressalva Thomas. "Há enormes diferenças nas extinções projetadas para aquecimento global mínimo ou máximo, de forma que a ação política ainda poderia salvar um número enorme de espécies. E elas não se tornam extintas no momento em que o clima muda. Portanto, reverter o aquecimento poderia salvar algumas ou talvez muitas espécies."

Com a palavra, a Rússia e os Estados Unidos, grandes emissores de gases do aquecimento global que se recusam a ratificar Kyoto.

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