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Assunto
Editoria
Data
Queimadas
Ciência
27/2/2004

Queimada diminui a chuva na Amazônia
REINALDO JOSÉ LOPES da Folha de S.Paulo

As queimadas na Amazônia não mais ameaçam apenas a biodiversidade da maior floresta do planeta. Partículas liberadas nos incêndios da região são capazes de diminuir a quantidade de chuvas e até alterar o balanço das estações, com impactos significativos para os climas amazônico e planetário.

Tais conclusões vêm de um estudo publicado hoje na prestigiosa revista "Science" (www.sciencemag.org) por uma equipe de pesquisadores brasileiros, alemães e israelenses. A bordo de dois aviões Bandeirantes do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da Uece (Universidade Estadual do Ceará), eles sobrevoaram Rondônia para examinar o exterior e o interior das nuvens que se formavam durante as queimadas --e não gostaram nem um pouco do que viram.

"Ainda não sabemos se é 10%, 20% ou 30%, mas o fato é que as queimadas reduzem a precipitação [a quantidade de chuva] significativamente", disse à Folha o físico da USP Paulo Artaxo, 50, um dos autores da pesquisa. De acordo com o cientista, as queimadas também estão bagunçando a divisão do ano em estação seca e estação chuvosa na Amazônia --a última está começando duas semanas depois do normal.

Os grandes vilões do processo parecem ser os aerossóis, partículas em suspensão na atmosfera que participam de uma série de processos climáticos, entre eles a formação de nuvens. Nesse caso, eles ganham o apelido de NCNs (núcleos de condensação de nuvens). É em volta deles que o vapor d'água forma gotinhas e, quando alcança uma massa crítica, despenca na forma de chuva.

Em condições normais, o ar da floresta não é muito menos límpido do que o acima do mar. Há poucos NCNs. Muitas gotas se concentram em torno de cada um deles e, portanto, as chuvas caem com grande regularidade.

Quando a mata está pontuada por queimadas, no entanto, a situação muda. As observações da equipe mostram que a concentração de NCNs passa de 300 por cm3 para mais de 5.000 por cm3.

As partículas das queimadas passam a dominar o cenário: surgem até as pironuvens ("piro" vem da palavra grega para fogo), que nascem diretamente da fumaça do incêndio, além de outras que aparecem depois da dispersão dos núcleos criados pelo fogo.

Com tanto NCN dando sopa, o vapor d'água não sabe muito bem para onde ir, e apenas poucas gotas se agarram a cada núcleo. O resultado é que as nuvens demoram a se formar, surgem acima das posições normais de nuvens de chuva e, apesar de gerarem algumas poucas tempestades, acabam causando um balanço total de chuvas bem menor.

Cria-se então um reforço sinistro: com menos chuva, os incêndios se alastram com mais facilidade, geram mais aerossóis, menos chuva ainda cai --e a Amazônia acaba ganhando uma estação seca prolongada.

É bem possível, no entanto, que o impacto do mecanismo vá muito além do Brasil. "A Amazônia é uma fonte importante de vapor d'água para a atmosfera do planeta", diz Artaxo. "Simulações já mostraram que secas na região causam eventos semelhantes na Inglaterra e nos Estados Unidos."

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