Os
danos ambientais causados por um derramamento
de derivados de petróleo podem ser melhor
avaliados quando se tem em mãos a caracterização
detalhada dos ecossistemas afetados. Foi com
esse objetivo que o biólogo João
Carlos Carvalho Milanelli realizou o biomonitoramento
de 17 pontos de costões rochosos no Canal
de São Sebastião, no Litoral Norte
paulista.
"O
Canal de São Sebastião é
rota de navios petroleiros", conta o pesquisador.
"No local existem, além do Porto,
o Terminal Marítimo Almirante Barroso
(Tebar), e entre 50% e 60% de todo o petróleo
utilizado no País passa por lá."
Com o biomonitoramento, explica o biólogo,
será possível avaliar com precisão
os danos reais provocados por derramamento de
óleo, saber quais espécies da
flora e da fauna foram mais afetadas, quantas
desapareceram e acompanhar o processo de recuperação
da comunidade atingida.
A
pesquisa foi originada a partir de um projeto
da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(Cetesb), onde Milanelli trabalha como biólogo,
e envolveu, além do pesquisador, profissionais
da Cetesb e alunos de graduação
da USP (como estagiários). O biólogo
reuniu e analisou os dados, o que deu origem
a seu doutorado, apresentado ao Instituto Oceanográfico
da USP, em dezembro de 2003.
De
1993 a 1996, a equipe realizou o levantamento
de costões rochosos do Canal de São
Sebastião, desde Barequeçaba até
Caraguatatuba, passando pela face Oeste de Ilha
Bela, entre a Praia do Curral, ao Sul, e a de
Ponta das Canas, ao Norte, totalizando 17 pontos.
Em cerca de 15 viagens em cada um dos pontos,
a equipe coletou organismos da flora e fauna,
detalhando a biodiversidade, a densidade populacional
e a composição das 300 espécies
encontradas.
Diferenças
na biodiversidade - Milanelli conta
que cada um dos locais de coleta apresentou
características específicas. No
caso de Ponta das Canas, em Ilha Bela, o biólogo
encontrou 166 espécies da flora e da
fauna marinha. Já em Caraguatatuba, foram
76.
Essa
diferença de biodiversidade se deve principalmente
à influência das ondas, da inclinação
da rocha e da existência de fendas nessas
rochas, que influem na quantidade de espécies
presentes. Fatores como insolação,
salinidade e época do ano também
influenciam a biodiversidade.
Durante
os últimos anos, a pesquisa de campo
foi atualizada. Novas viagens a alguns dos pontos
analisados foram feitas e envolveram graduandos
da USP, da Unesp e profissionais da Cetesb.
"Isso
possibilita o acompanhamento da evolução
populacional das espécies", explica
o biólogo. "Podemos saber, por exemplo,
se alguma delas sofreu algum tipo de alteração,
independentemente de um derramamento de óleo."
Como
exemplo, cita a intensa colonização
de um molusco bivalve invasor (Isognomom bicolor)
nos costões da região, o qual
está causando profundas alterações
na estrutura das comunidades locais. Milanelli
afirma que a idéia é disponibilizar
um banco de dados atualizado ano a ano com as
informações obtidas. Mais informações:
(0XX11) 3030-6499 ou e-mail joaom@cetesb.sp.gov.br
com Milanelli. Agência USP - Jornalista:
Valéria Dias