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Assunto
Editoria
Data
Paleontologia
Divulgação Científica
10/2/2004

Dinossauros maranhenses

Por Ricardo Zorzetto – Revista Pesquisa FAPESP

Em pé, encostado no batente da porta à frente da casa, o professor de biologia Vitorino Coelho de Sousa ouvia, sem prestar muita atenção, um rapaz tagarela que lhe enumerava os ensinamentos da Bíblia na esperança de convertê-lo à religião evangélica. De repente, a conversa tranqüila – uma das tantas que ainda ocupam os finais de tarde nas cidades pequenas – tomou desvios inesperados, originou uma história rica em aparentes acasos e resultou, dias depois, no achado de aproximadamente 70 fósseis de dinossauros com cerca de 110 milhões de anos, encontrados no interior do Maranhão, e na descoberta de uma possível nova espécie desses gigantescos répteis pré-históricos, eliminados do planeta há 65 milhões de anos. Até então, amostras tão antigas de dinossauros eram raras no Nordeste.

Estamos em Coroatá, cidade de 50 mil habitantes no interior maranhense, 200 quilômetros ao sul da capital, São Luís, numa tarde do final de julho do ano passado. Após ouvir o visitante por longos minutos, Vitorino perdeu a paciência e entrou num embate entre ciência e religião, com argumentos acalorados de ambos os lados, quando o jovem evangélico afirmou que os animais existentes no mundo eram de origem divina.

Professor de biologia numa escola secundária, Vitorino resolveu ensinar ao rapaz um pouco de ciência. Explicou que restos de plantas e animais petrificados, os fósseis, eram uma prova de que os seres vivos atuais não eram obra de Deus, mas haviam evoluído de outras espécies, surgidas milhões de anos antes. Admirado com a explicação, o jovem comentou: “Faz pouco tempo, vi na casa de uma pessoa aqui mesmo em Coroatá algumas pedras parecidas com osso”.

Vitorino passou dias intrigado com esse comentário. No final de semana, resolveu conferir. Apanhou a máquina fotográfica, seguiu para a região indicada e chegou até o sítio do agricultor Alexandre Marques Vaz, um plantador de mandioca, batata, arroz e milho, que, de fato, havia coletado, durante 13 anos, umas pedras semelhantes a ossos. A forma dessas pedras já havia gerado longos debates entre Alexandre e seus vizinhos. Alguns achavam serem mesmo osso de bicho - talvez até de elefante, pelo tamanho, e por que não? –, enquanto para outros aquilo tudo não passava de pedras ordinárias.

Vitorino teve de gastar muita conversa para convencer o desconfiado agricultor a mostrar as tais pedras, guardadas com o zelo de quem esconde um tesouro. E não eram poucas: forravam o chão de um dos cômodos da casa de tijolos sem reboco em que o agricultor de 32 anos mora com a mulher e os filhos.

Sob o olhar matreiro do dono da casa, Vitorino logo bateu o olho num osso cilíndrico petrificado, com quase 20 centímetros de diâmetro. Lembrando-se das aulas de paleontologia de seu curso de graduação na Universidade Federal do Piauí (UFPI), ele concluiu, de imediato: não era um osso de elefante, como haviam imaginado, mas uma vértebra petrificada da cauda de um dinossauro.Como são raros os fósseis de dinossauros encontrados no país, Vitorino sabia estar diante de um material de alto interesse científico.

Leia com exclusividade a reportagem de capa da edição 96 de Pesquisa FAPESP.

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