O
governo federal divulga hoje, em Brasília,
o índice de desmatamento na Amazônia
em 2003, que deve superar a marca anterior de
25.400 km², podendo chegar a 30 mil km².
A estimativa foi feita ontem por representantes
de entidades ligadas à Amazônia
após reunião com o Ministério
do Meio Ambiente, da qual também participou
a ministra Marina Silva.
Para
chegar à previsão, especialistas
utilizaram dados de 77 imagens das áreas
mais críticas de desmatamento, englobando
416 municípios. Nos nove Estados que
aparecem nas imagens de pontos mais críticos,
o total devastado ultrapassa 21.500 km²
no período entre agosto de 2002 e o mesmo
mês do ano passado.
Um
grupo de 25 municípios em três
Estados --Mato Grosso, Pará e Rondônia--
é responsável por 50% dessa área.
Juntos, tiveram 10.560 km² devastados,
o que representa quase duas vezes a área
do Distrito Federal. O campeão é
São Félix do Xingu (PA), com 1.332
km².
Mesmo com esses números, o secretário
de Biodiversidade e Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, João Paulo Ribeiro
Capobianco, diz acreditar que a marca de 2003
possa ser menor que a anterior. "A expectativa
é de uma situação melhor
porque em vários municípios houve
queda nos índices", disse ele.
Segundo
Capobianco, os dados finais estavam sendo fechados
ontem. Serão apresentados hoje, antes
da divulgação oficial, a ministros
de outras áreas envolvidos no Plano de
Ação para Prevenção
e Controle do Desmatamento na Amazônia
Legal.
Os
especialistas apontam como a principal causa
do avanço do desmatamento a boa fase
do agronegócio no Brasil, principalmente
pecuária e grãos.
"Apesar
de a economia no geral ter apresentado retração
no ano passado, o agronegócio tem se
desenvolvido. O aumento dessa parte da economia
está alimentando o desmatamento. E isso
é trágico", disse Paulo Adário,
do Greenpeace, que participou da reunião
ontem.
Para
Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra - Amazônia
Brasileira, a tendência de aumento do
desmatamento é decorrente da política
adotada para a região nos últimos
anos. "Isso não é taxa de
juros, que temos de esconder até a última
hora [o índice de desmatamento]. Se aumentou,
não é culpa de um só governo.
Não é uma questão de crucificar
ninguém."
Smeraldi
citou um levantamento de uma consultoria, iniciado
ainda no governo Fernando Henrique Cardoso,
apontando que a projeção é
de 18 mil km2 de área devastada ao ano,
mesmo que não haja expansão da
agricultura e da pecuária na Amazônia.
No
mês passado, o governo lançou um
plano de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia
que envolve 12 ministérios em atividades
de fiscalização, licenciamento
ambiental, instrumentos de crédito rural
e planejamento para obras de infra-estrutura.