Em
tempos de crise de abastecimento de água,
com reservatórios operando em seus limites,
uma idéia simples, implantada no Centro
de Técnicas de Construção
Civil (CTCC) da Escola Politécnica da
USP, vem mostrando resultados eficientes na
conservação de água potável.
Trata-se de um sistema de coleta e aproveitamento
de água de chuva para consumo não
potável em edificações.
O
objetivo é coletar e armazenar água
para ser utilizada na limpeza de vasos sanitários,
irrigação de jardins, limpeza
de calçadas e pátios, lavagem
de veículos, etc. "O sistema é
composto por um coletor automático de
amostras seqüênciais de água
de chuva e por três caixas d'água
com capacidade para 500 litros cada uma",
explica a engenheira civil Simone May. Ela é
autora da dissertação de mestrado
Estudo da viabilidade do aproveitamento de água
de chuva para consumo não-potável
em edificações, que será
apresentada no próximo dia 29 de abril
no Departamento de Engenharia de Construção
Civil da Poli, sob orientação
do professor Racine Tadeu Araújo Prado.
Após
obter a água das chuvas com o coletor
automático, as amostras são levadas
ao Instituto Adolfo Lutz onde são analisadas.
A água armazenada nos reservatórios
destina-se a fazer a alimentação
de dois vasos sanitários do CTCC. "Numa
residência, por exemplo, aproximadamente
35% do consumo total é utilizado em um
único vaso sanitário", calcula
Simone.
Desde
2001, época da construção
e instalação do sistema, a engenheira
vem realizando análises físicas,
químicas e bacteriológicas de
amostras de água de chuva, num total
de 28 parâmetros. "A água
de chuva é ácida e, em nosso caso,
50% das amostras continham coliformes fecais",
revela. Segundo Simone, os coliformes fecais
são, em geral, provenientes de animais
de sangue quente como pássaros, gatos,
ratos, etc. "Como a água é
coletada do telhado, além dos coliformes
fecais existem outros tipos de poluentes depositados
na cobertura, o que resulta na confirmação
de coliformes totais. Contudo, constatamos que
há baixas concentrações
de materiais pesados, como ferro e manganês,
por exemplo", conta.
Sistema
experimental - O sistema experimental
construído no CTCC teve como objetivo
coletar e verificar a qualidade de amostras
de água de chuva. O experimento, que
custou cerca de R$ 100 mil, foi financiado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp).
Para
as análises das amostras, um coletor
automático que mantém a água
a 5º C foi especialmente desenvolvido por
uma empresa brasileira, sob a supervisão
de Simone. "Não havia nenhum equipamento
como este no Brasil. Com base nas especificações
referentes ao número de amostras, temperatura
e tempo de coleta, construímos um projeto
piloto. O coletor automático de amostragem
seqüencial teve um custo de R$ 50 mil",
conta a engenheira.
As
análises, segundo Simone, são
importantes para que sejam determinados parâmetros
de qualidade para propor um tratamento visando
o uso da água de chuva para consumo não
potável, sem prejuízo à
saúde. No sistema de coleta e armazenamento,
a água passa por um vertedouro onde faz-se
a leitura do volume que está chegando
aos reservatórios. "Uma bomba recalca
a água de chuva para um terceiro reservatório
que está sobre a laje do edifício,
que abastece os dois vasos sanitários
do edifício", explica Simone. A
idéia, segundo ela, é instalar
entre a bomba e o último reservatório,
um dosador de cloro para fazer a desinfecção
da água de chuva antes de sua utilização.
Simone
assegura que o sistema pode ser facilmente adaptado
em uma residência, por exemplo. "Basta
que sejam instaladas calhas, um reservatório
de acumulação e peneiras, para
retirada de folhas e galhos. Após o descarte
dos primeiros 15 a 20 minutos, onde faz-se a
limpeza do telhado, a água de chuva poderá
ser coletada e utilizada onde não há
necessidade de água potável na
edificação", diz a pesquisadora.
Mais
informações: (0XX11) 3091-5459,
com Simone May; e-mail: simone.may@poli.usp.br
Jornalista:
Antonio Quinto - Agência USP