Carlos José Saldanha Machado - Professor
do Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Ambiental da UERJ, Presidente da Câmara Técnica
de Sistema de Gestão do Conselho Estadual de Recursos
Hídricos do Rio de Janeiro. E-mail: cjsmac@uerj.br.
A água é um dos recursos naturais de uso mais
intensivo e diversificado pelo homem. Embora tenha a característica
de satisfazer necessidades básicas de seres humanos
e de animais, isto não é suficiente para lhe
conferir o atributo de bem econômico.
As diferentes formas de uso da água diferem na qualidade
e na quantidade de fluxos devolvidos ao meio hídrico
e portanto condicionam de diferentes modos, o uso posterior
da quantidade não consumida pelos diversos usuários.
Cada uma das formas de utilização da água
demanda um padrão de qualidade diferenciado, que
normalmente não é compatível com a
qualidade que é devolvida após seu uso para
um determinado fim.
É precisamente o caráter multifacetado e concorrencial
entre os diversos usos que fundamenta a originalidade do
consumo da água. Com efeito esta não é
consumida como os outros bens, pois em alguns casos é
reutilizável uma vez que seu consumo não a
elimina, pouco alterando a quantidade disponível,
traduzindo-se fundamentalmente pela degradação
de sua qualidade.
Com isso, a despeito de sua capacidade natural de renovação
em um horizonte de tempo relativamente curto, a inexistência
de esforços no sentido de controlar e recuperar a
água utilizada pela ação humana pode
comprometer, temporária ou definitivamente, outras
possíveis aplicações deste recurso.
A qualidade da água passa a ser um problema econômico,
pois é essencialmente econômica a escolha de
seus usos entre as várias opções possíveis
e, em função da qualidade, a água torna-se
um bem escasso.
Para a água ser um bem econômico é necessário
que cumpra a seguinte propriedade básica: considerando
a inexistência de qualquer restrição
à sua utilização, a quantidade disponível
em determinado local e em um período específico
é menor que a quantidade total demandada.
Esta idéia básica precisa, entretanto, ser
qualificada para que possa representar um princípio
operacional. É preciso incorporar na definição
do produto "água" os atributos que servem
para caracterizar este elemento.
Inicialmente é necessário considerar seus
atributos físicos. Estes permitem distinguir determinado
tipo de água de outros, segundo eventuais diferenças
qualitativas. Um exemplo seria a distinção
entre água potável e água não
potável. Assim poderíamos eventualmente ter
a situação em que considerando estas duas
alternativas, apenas a água potável seria
um bem econômico.
Um outro atributo relevante é o local em que a água
estaria disponível. A identificação
da água como bem econômico e neste caso a própria
determinação de seu valor, dependerão
da definição do seu local de disponibilidade.
As variações locacionais nas condições
de demanda e oferta deverão ocasionar diferenças
no valor econômico da água.
Um terceiro atributo relevante é o período
de disponibilidade. Do ponto de vista econômico, diferenças
na disponibilidade e nas condições de demanda
da água em períodos distintos, poderão
ocasionar, a exemplo das diferenças de localização,
discrepâncias de valor econômico.
Cada um destes atributos irá trazer, evidentemente,
dificuldades quanto à identificação
de cada particular produto. Pode-se, então, utilizar
como critério para determinação do
número de períodos, locais e diferentes atributos
físicos no caso da água, a sensibilidade dos
agentes em questão em relação a mudanças
em cada um destes atributos. Assim, poderemos transformar
variações contínuas de qualidade física,
período e localização em mudanças
discretas: a água transforma-se num bem econômico
ao qual está associado um custo e passa a ter um
valor para cada uso, que depende do tipo de necessidade
a satisfazer, da facilidade de sua utilização,
da garantia de sua disponibilidade e da sua capacidade.
Assim deixa de ser um bem livre e gratuito, mas um bem com
um valor econômico, um custo e um preço. Aparentemente
torna-se um bem mercantil mas, não um bem mercantil
como os outros.
Como é usual o valor econômico da água
deverá ser encontrado através da interação
entre a demanda e a oferta da água de determinado
tipo, em determinada localidade e em determinado período
de tempo
Artigo
publicado pelo Jornal da Ciência
Órgão da Sociedade Brasileira pra o
Progresso da Ciência
Edição 2076, Terça-Feira, 16
de Julho de 2002
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